O Trovadorismo


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Alguns aspectos da  história da Península Ibérica são importantes para entendermos certas características das manifestações literárias desse período:

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  • O feudalismo, já em declínio, terá reflexos até mesmo na linguagem da poesia amorosa. As cortes dos reis e dos grandes senhores feudais são os centros de produção cultural e literária.
  • A reconquista do território, dominados pelos árabes desde o século VIII, faz prolongar, na nobreza ibérica, o espírito guerreiro e aventureiro das Cruzadas. Daí o gosto tardio em Portugal pelas novelas de Cavalaria.
  • Por último, o profundo espírito religioso medieval, teocentrismo, que se refletirá tanto já nas citadas novelas de cavalaria como na poesia de temática religiosa (cantigas de Santa Maria, de D. Afonso X) e nas hagiografias (vidas de santos)  e obras de devoção.

Primeira Leitura                                                                                                                     

Leia esta cantiga. Ela foi composta há quase sete séculos. Nessa época (século XIV) , a língua portuguesa ainda não existia. Falava-se em Portugal o galego-português, que, no século XV, dará origem a duas línguas distintas: o galego e o português. A principal característica da cantiga é a simplicidade. Seu autor, o trovador D. Afonso Sanches, era filho bastardo do rei D.Dinis, que também era trovador. Sua ascendência nobre não impediu D. Afonso Sanches de compor uma cantiga nos moldes da tradição popular.



Cantiga
                       D. Afonso Sanches

Dizia la fremozinha:
— Ai Deus, val!
Com' estou d’amor ferida!
— Ai Deus, val!

Dizia la bem talhada:
— Ai Deus, val!
Com' estou d’amor coitada!
— Ai Deus, val!

— Com' estou d’amor ferida!
— Ai Deus, val!
Não vem o que bem queria!
— Ai Deus, val!

— Com' estou d’amor coitada!
— Ai Deus, val!
Não vem o que muit’amava!
— Ai Deus, val!


Vocabulário:
fremosinha - formosinha;
ai, Deus, val - ai, valha-me Deus!; ai, Deus me ajude!
bem talhada - bem-feita, elegante, bonita.
coitada - infeliz, cheia de sofrimento amoroso.

ATIVIDADES   1                                                                                                                                     

1. A repetição é um dos procedimentos expressivos da poesia e da música popular. Copie o versos repetidos, indicando quantas vezes aparecem no texto.
2. Observe também o uso do refrão ("ai, Deus, val!"), comuns nas cantigas populares. Procure lembrar-se  de uma cantiga de folclórica ou de uma música popular brasileira feita com repetições e refrão. Anote-a em seu caderno.
3. Há duas vozes na cantiga. Explique essa afirmação.
4.No primeiro verso da cantiga, a moça é caracterizada com o adjetivo diminutivo "fremosinha ". Comente o uso desse diminutivo.
5. Por que a moça se sente "coitada" e "d'amor ferida"?
6. Comente a razão de tão grande sofrimento: é um fato banal, corriqueiro, ou é um grande drama de amor?


A poesia no período trovadoresco

Ao ler um texto poético desse período, não podemos ter em  mente a tradição moderna e o que hoje entendemos por poesia. A poesia não era escrita para ser lida por um leitor solitário. Era poesia cantada (daí o nome de cantiga) geralmente  acompanhada por um coro e por instrumentos musicais. Seu público não era, portanto, constituído de leitores, mas de ouvintes.
Assim, devemos sempre considerar as cantigas como poesia intimamente ligada à música, própria para apresentações coletivas.

Os cancioneiros
Só tardiamente  (a partir do final do século XIII) as cantigas foram copiadas e colecionadas em manuscritos chamados cancioneiros.  Três desses livros, contendo aproximadamente 1680  cantigas, chegaram até nós.


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Os autores
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Os autores das cantigas são chamados trovadores. Eram pessoas cultas, quase sempre nobres, contando-se entre eles alguns reis, como D. Sancho I, D. Afonso X, de Castela, e D. Dinis. 


Os intérpretes
As cantigas compostas pelos trovadores eram musicadas e interpretadas pelo jogral, pelo segrel e pelo menestrel, artistas agregados às cortes ou que perambulavam pelas cidades e feras. Muitas vezes o jogral também compunha cantigas.



Características das cantigas

  • Língua: galego -português;
  • Tradição oral e coletiva;
  • Poesia cantada e acompanhada por instrumentos musicais, colecionada em cancioneiros.
  • Autores: trovadores.
  • Intérpretes: jograis, segréis e menestréis.
  • Gêneros: lírico (cantiga de amigo, cantigas de amor) e satírico (cantigas de escárnio, cantigas de maldizer).
Os gêneros
As cantigas podem ser classificadas em:

  • gênero lírico: cantigas de amigo e cantigas de amor;
  • gênero satírico: cantigas de escárnio e de maldizer.
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ATIVIDADES    2                                                                                                                              
1. Qual a semelhança mais evidente entre essa cantiga e a da cantiga de D. Afonso Sanches?
2. A voz que fala na cantiga é uma voz masculina ou feminina?
3. A quem essa voz se dirige?
4. Qual a sua insistente pergunta?
5. Qual o desejo expresso no refrão?

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ATIVIDADES      3                                                                                                                                   
1. A voz que fala na cantiga é masculina ou feminina?
2.Releia os três primeiros versos da primeira estrofe. Que objetivo  a voz lírica anuncia?
3. Qual a diferença formal mais evidente entre esta cantiga e a de Martim Codax?
4. Comparando ainda as duas cantigas, qual delas reflete uma visão mais realista do amor? Qual das cantigas reflete uma visão mais refinada e idealizada do amor?

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As cantigas satíricas apresentam interesse sobretudo histórico. São verdadeiros documentos da vida social, principalmente da corte. Fazem ecoar as reações públicas a certos fatos políticos; revelam detalhes da vida íntima da aristocracia, dos trovadores e dos jograis, trazendo até nós os mexericos e os vícios ocultos da fidalguia medieval portuguesa.
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ATIVIDADE   4                                                                                                                                       
1.O filólogo Rodrigues Lapa designa esta cantiga como escárnio de amor. Responda às questões seguintes, considerando essa designação, que explica o caráter paródico da cantiga.
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a. Que elementos próprios das cantigas de amor encontramos nessa paródia?


b. Em qual verso o trovador deixa clara a sua intenção satírica? Qual é a primeira palavra em que o elogio, que se espera em uma cantiga de amor, se transforma em insulo?

2. Agora releia a primeira estrofe da cantiga de amor de D. Dinis e responda:

a. A que versos da cantiga de D. Dinis correspondem os dois primeiros versos de Pero Larouco? Por quê?

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b. Pero Larouco utiliza uma hipérbole para falar da estupidez da mulher: "bem [moor] é vossa torpidade/de quantas outras eno mundo sei". Qual a hipérbole semelhante utilizada por D. Dinis para falar das qualidades de sua "senhor"?

3. Nas cantigas de amor, o eu-lírico idealiza a mulher amada e exprime o intenso sofrimento (coita) por não ser correspondido. Reescreva os seguintes versos, restaurando a fórmula da idealização da mulher, própria das cantigas de amor: "assi de fea come de maldade/nom vos vence oje senom filha dum rei" (substitua as palavras "fea" e "maldade").


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